Cabelos cacheados e crespos: Livres, leves e soltos

Os cabelos cacheados e crespos não são meramente uma tendência da moda. Existe um empoderamento social e muita luta contra a padronização da beleza. Por traz da beleza exterior, reflete uma expressão genuína do que é ser brasileiro

O cabelo mexe muito com as mulheres quando se trata da valorização da identidade, principalmente nas mulheres negras, que são a maioria em nosso país. E não vai pensando que os cabelos cacheados e crespos sempre foram os queridinhos dos padrões de beleza impostos pela indústria cultural. Pelo contrário, há ainda muitas lutas contra o preconceito desta estrutura capilar. Apesar de 70% da população brasileira ter madeixas onduladas e crespas, o mercado da beleza continua priorizando o liso, tratamentos capilares com bastante uso de produtos químicos e técnicas agressivas tanto para o cabelo quanto para aceitação de si mesmo(a).

“A ampla maioria dos meus clientes tem cabelos e cacheados e crespos. Sinto que ainda falta orientação sobre como cuidar desse tipo de cabelo tanto para os clientes quanto para os próprios profissionais que, na maioria das vezes, não recebe esse tipo de treinamento. Começamos a caminhar na aceitação deste tipo de cabelo e já percebo uma mobilização da mídia e das empresas a fim de criar produtos voltados a esse público, mas isso ainda é muito pouco perto da conscientização que precisa existir”, afirma Tayse Mendes do salão Gaia Espaço Natural, localizado em São Luís do Maranhão.

Além de Tayse há muitos outros cabeleireiros comprometidos com a valorização da beleza natural dos cabelos. É o caso da empreendedora Alessandra Feminella, de Florianópolis, que criou em 2012 um salão especializado somente em tratamentos e cuidados com cabelos cacheados e crespos.  “A ideia do Studio dos Cachos® veio de minha necessidade particular de cuidar de meus cabelos encaracolados. Eu frequentava várias cabeleireiras e todas diziam que eu tinha cabelos difíceis e delicados de cuidar, e hoje provo o contrário para nossas clientes dentro de nosso espaço. As pessoas em fase de transição são como eu antigamente.”

 

Alessandra conta que sempre teve dificuldade de encontrar profissionais que pudessem ensinar e explicar como os cabelos cacheados e crespos funcionam. Ela explica que seus clientes sempre chegam inseguros e com muito medo em seu salão. “O cabelo encaracolado sempre foi cortado como cabelo liso, e na verdade isso não pode acontecer, pois os cachos tem um caimento particular em nossas cabeças.”

 

Cabelos cacheados e crespos são identidade

A vivência do próprio valor e da auto-aceitação é complexa. Indo um pouco mais a fundo percebe-se que a questão da beleza é muito mais do que propõe as capas de revista. Para grande parte dos brasileiros sentir-se bonito é uma questão auto-estima, que está muito além da beleza exterior. A auto-estima acontece na qualificação afetiva da sociedade e, para a cultura afro-brasileira, a luta é diária por esse empoderamento.

Em entrevista com a maquiadora catarinense Isadora Souza ficou claro para nós da Caule eco.lógicos a importância da causa social ser um dos ingredientes principais do nosso trabalho. Isadora afirma que o seu cabelo representa muito para sua vida, pois foi através dele que ela vem ampliando a discussão do que é ser mulher negra em nossa sociedade.

A maquiadora também participa de grupos nas redes sociais como o “Amigas crespas” onde outras mulheres compartilham suas experiências e desafios. “Eu não sabia o peso que isso tinha. E essa trajetória do que estou traçando se reflete muito no meu cabelo, na minha identidade. Para uma mulher negra o cabelo tem um peso fundamental. É difícil essa aceitação de tomar gosto do seu próprio cabelo, então, pra mim é uma forma de olhar pra dentro, olhar para minhas raízes, porque o cabelo revela meus ancestrais, revela a luta deles, existem histórias por trás do cabelo”, expressa.

A maquiadora conta que desde a infância fazia tratamento capilares, até que há cinco anos resolveu assumir sua beleza tal como ela é: natural, de personalidade forte e autêntica. Ela descobriu em suas pesquisas que existem vários tipos de estruturas capilares e que cacheados e crespos são diferentes. Seu cabelo não podia ter cachos bem definidos, foi então que ela aprendeu a olhar seu cabelo de outra forma e aceita-lo.

“Todo cabelo dá trabalho, mas cada um possui suas peculiaridades. Geralmente eu lavo meu cabelo somente uma vez por semana. Eu o hidrato semana sim e semana não, vou revezando. E diariamente, acordo, tiro amarrador, balanço ele na raiz, passo pente e pronto. Estou pronta!”. É um alívio para a maquiadora que gastava quase todo seu salário com caros tratamentos como progressivas, relaxamentos, sem contar às químicas que utilizava. Hoje faz hidratação com abacate, banana, óleo de coco  e seu cabelo  fica com outro brilho.

Tratamentos naturais

A cabeleireira Tayse costuma usar shampoos e cremes da Surya e Multivegetal, revendidos pela Caule (confira em nosso catálogo). Ela costuma sugerir aos seus clientes uma linha mais natural pois possuem uma ótima aceitação nos cabelos cacheados e crespos por terem composições bem ricas em óleos e manteigas. Outro querido sugerido por ela são as Hennas Surya, uma opção saudável para colorir os cabelos e pra pigmentar as sobrancelhas.

 “Costumo recomendar o tratamento nutritivo e restaurador, pois a maioria dos cabelos crespos que chegam até mim estão vindo de algum tipo de química, alisamento, permanente afro ou ainda de agressões físicas como apliques e tranças que agridem o couro cabeludo. Fazemos muitos BC (big chop) que é o corte que retira todo o cabelo com química, deixando só o natural.”

Tem mais, além de poder fazer as pazes com os seus cabelos cacheados e crespos tratá-los muito melhor , você pode inspirar outras pessoas inclusive crianças a valorizarem sua natureza e identidade e não sucumbirem à pressão de usar tratamentos caros e tóxico para quem usa, aplica e para o planeta.