Causa CauleEmpreendedorismo social

Quanto vale uma vida sem causa?

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Jóvem Gandhi
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Martin Luther King Jr.

“Quem não tem uma causa pela qual morrer não tem motivo para viver” – nos sites em que olhei, essa frase é atribuída a Martin Luther King. Não me marcou, mas lançou luz a uma marca que já tinha, já sentia e pensava dessa forma, mas nunca tinha sintetizado em uma frase essa percepção. E essa frase me remete à outra, de Gandhi, que assisti no filme que conta sua história: “Por essa causa estou disposto a morrer, mas não a matar”.

Motivos para viver… por que vivemos? Para que vivemos? São questões que remetem às eternas dúvidas do ser humano. Para a maioria, essas questões são afastadas do cotidiano, ou porque tem respostas prontas de alguma filosofia ou religião que servem como atalho para retornar rapidamente aos afazeres do dia-a-dia, ou porque não querem dar espaço a uma reflexão que podia acabar por sacudir demais sua visão do mundo, ou porque estão tão ocupados em resolver seus problemas subjetivos ou objetivos que não sobre tempo para filosofar. Muitas vezes, porém, essas questões começam a se impor de forma indireta, invisível, imperceptível e às vezes, irreversível. A falta de sentido na vida, a impossibilidade de preencher o vazio interno com artimanhas externas, se manifesta cada vez mais como doença e depressão nas sociedades modernas.

Eu já tive períodos de depressão. Dois mais precisamente. O primeiro mais longo e outro mais curto, mas mais forte. Quase enlouqueci e a quem estava comigo. A primeira vez foi terminando o ensino médio e iniciando a faculdade e o outro foi dois anos depois de me formar (en-formar?). Analisando melhor agora, acho que foi um período com um intervalo, com alguma melhora temporária no meio.
Hoje ou encontrei uma causa. O que me ajudou a encobrir a depressão ou a transcender a depressão. Acredito na segunda hipótese. E é sobre isso que vou falar.

No livro do criador da logosofia, Viktor Frankl: “Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração”, explica como encontrar sentido na vida é capaz de curar desde vícios até depressão. Ele chegou a essa teoria a partir da sua vivência em um campo de concentração (ele era judeu) onde perdeu muitos de seus familiares, observando que quem era mais capaz de resistir a esse massacre era quem sentia ser necessário a algo ou alguém, ou seja, quem via sentido na vida.

A causa pode até não ser a mais nobre, a mais bela, mas sendo causa, visceral, é indiscutível a potência de sobrevivência que proporciona. Nos campos de concentração, padres católicos e comunistas eram os que mais resistiam. Para estes fins, cristianismo e ateísmo são igualmente fortes na sua fé inabalável em um futuro melhor. Pessoas “normais” resistiam bem menos, não entendendo ou aceitando o porquê de terem sido vítimas dessa barbárie. Os artistas e intelectuais, mais sensíveis, morriam rapidamente, muitos se suicidaram. A questão não é deixar de ser sensível mas acreditar em soluções e se dedicar a elas. É o que experimentei na minha vida, me considero sensível, desde criança muitas coisas corriqueiras a maior parte das pessoas me  faz refletir e isso só aumenta ao longo do tempo a questão é que acrescentei a essa tendência a prática de pensar como poderia ser diferente e depois o que eu posso fazer para transformar a partir do ponto onde estou.

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Fabricação de componentes do iPhone da FoxConn na China
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Redes antisuicídio

Olhando para a nossa época atual, fiquei absolutamente chocada ao ler uma matéria sobre a quantidade de suicídios em locais de trabalho escravo em países como a China. Pessoas que trabalham 14, 16 horas por dia em estruturas de semi-escravatura e recebem salários vergonhosos. Nesses prédios já é comum ter redes instaladas pela frequência com que as pessoas se suicidam se jogando dos andares mais altos, como mostra a foto à esquerda, numa das instalações da FoxConn, na China.

 

BC
Sombras de Baln. Camboriu

Aqui no Brasil, um lugar que tem uma frequência de suicídios muito acima da média nacional é Balneário Camboriú, com cerca de 11 óbitos por 100 mil pessoas por ano, a média nacional é de cerca de 5 de suicídios por cem mil habitantes. Por que Balneário Camboriú, ícone catarinense e até brasileiro de riqueza, cidade modelo que imita Punta del Este e Miami? O que me chama a atenção é o disparate entre as duas situações. Morei ao lado de Balneário Camboriú, em Itajaí, cidade portuária e imagino que muitas pessoas de poder aquisitivo elevado tenham alcançado esses patamares de conseguir comprar um apartamento milionário lá por fazerem parte da rede de exploração da mão de obra escrava em países como China e Bangladesh.
Fiz a ponte imaginando redes instaladas entre os arranha céus de Balneário Camboriú para evitar os suicídios frequentes dos ricos, escravos do seu dinheiro. As escolhas e seus resultados não deixam de ser irônicos.
O Brasil é o oitavo país do mundo em índice de suicídio segundo a Organização Mundial de Saúde que também revela que a cada 40 segundos uma pessoa suicida-se no mundo. Essa questão é tão significativa no Brasil que desde 1962 existe para quem está desesperado a ponto de pensar em suicídio um serviço do Centro de Valorização da Vida (CVV) para onde se pode ligar 24h e falar com uma pessoa voluntária, treinada para conversar sobre as angústias das pessoas que se sentem isoladas ao ponto de não aguentar mais viver.

Trabalhador rural aplicando inseticida com costal em plantação de fumo - Três Barras - RS Local: Santa Maria - RS Data: 10/2011 Tombo: 03GG625 Autor: Gerson Gerloff
Trabalhador rural aplicando inseticida com costal em plantação de fumo

Outra cidade com um dos maiores índices de suicídio do Brasil é Venâncio Aires, no RS, com uma taxa de quase o dobro de suicídios de Balneário Camboriú. O motivo? A cultura do fumo, não a de fumar, mas do plantio de fumo que demanda grandes quantidades de agrotóxicos que comprovadamente levam à depressão e, por consequência, ao suicídio em muitos casos. E existem muitas outras cidades rurais com altos índices de suicídio pelo mesmo motivo.
Suicídio é um tabu e é altamente criminalizado. É pecado na religião católica que predomina na América Latina e em muitas outras religiões. Se não o fosse, acredito que seria mais comum e com serviços relacionados, como suicídio assistido que é descriminalizado em países como a Holanda e Suíça, em determinados casos.

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Dr. André Luiz

Um livro famoso na doutrina espírita conta a história de André Luiz, um médico que vai para o umbral (“estado ou lugar transitório por onde passam as pessoas que não souberam aproveitar a vida na Terra”) e não entende porque foi pra lá se era uma boa pessoa que ajudava muita gente. Respondem-lhe que ali estava por ter cometido suicídio, mas ele tinha morrido de câncer e a explicação foi que a morte veio em decorrência da falta de cuidado consigo, por um estilo de vida danoso.
Nesse caso estamos quase todos nós cometendo atos de suicídio todos os dias, consciente ou inconscientemente.
Quais de nossas mínimas ações preservam e expandem nossa vida e quais de nossas ações prejudicam e deprimem nossa existência: física, emocional, mental e espiritual?

Isso sem falar de vidas alheias.

Eu percebo que quando nos damos conta do nosso valor para o todo, das nossas competências originais para um mundo melhor, passamos a nos cuidar, a nos amar e, portanto nos preservar. Fazendo de cada ato de cada dia um ato de autocuidado e, porque não, de autonamoro.
Mas ao mesmo tempo com desapego. Algo como: Me amo, amo minha vida, amo toda vida, viver é uma bênção e morrer não é assustador ou desejável, é natural. Se me dedico da melhor forma, a cada dia à minha vida, a toda vida, à minha causa, então, minha vida é um tesouro que facilmente posso me desfazer caso preciso.

No filme “As Faces de Helen” conta a história de uma mulher que tem tudo para ser feliz na profissão e na família. Renomada e bem sucedida professora de música, casada com um marido que a ama e dedicado, com uma filha feliz e saudável, mas que sofre de depressão suicida. O filme apresenta a trajetória dessa mulher para se tratar, usando medicamentos e posteriormente eletrochoques. Em nenhum momento do filme é cogitada a possibilidade de psicoterapia, não encontrei motivos para essa omissão. A psicoterapia pode contribuir muito no entendimento desse tipo de desequilíbrio e de tantos outros e até a encontrar sua causa ou causas na vida.

A sensação de não pertencimento, deslocamento, isolamento emocional que se manifesta na depressão fica evidente em vários momentos. Nas vezes que tive depressão, tive essa sensação e é o que mais sinto que mudou. Sinto-me muito como parte importante do todo. Engajada na minha vida e na causa de tornar o mundo melhor, não de uma forma assim ampla e superficial, mas com a parte desse todo com que eu me identifico e vejo que posso dar uma contribuição muito específica que é em relação à beleza integral, ao consumo consciente mais precisamente com aquilo que nos intoxica e que polui não tão explicitamente.

Autoconhecimento e conexão espiritual: o que vejo de imprescindível para ao mesmo tempo se dar conta da grande missão de fazer o mundo melhor, com o seu melhor. Vida, vivida com causa. Eu estou conquistando ambos: pelo Yoga, terapias, filosofia e dialética com pessoas com as quais vibro na mesma frequência. Pratico Yoga desde os 18 anos, dou aulas há quase 8 anos. Para quem se aprofunda um pouco no Yoga logo é apresentado ao conceito de iluminação. Sim, o fim último do Yoga é a iluminação que resumida e superficialmente quer dizer: desfrutar de consciência e autorealização plena. O destino é lindo, o caminho nem tanto, passa necessariamente pela morte do ego, eu diria de uma forma mais branda: o gerenciamento do ego pela consciência, já que até então é o ego o dono do campinho e não tem a mínima intenção de deixar de ser, o confronto pode ser longo e dolorido e geralmente o é – e o cenário mais frequente é o fundo do poço. Pode não ser também. Mas o que posso dizer é que depois que o ego é colocado no seu lugar pela consciência, ele até agradece, tudo flui melhor. 🙂 Muitos Yogues famosos passaram por situações muito fortes, até extremas, de morte do ego, a caminho da iluminação.

#3215869 Nick Vujicic surfs in Hawaii in 2008. He was taught by Bethany Hamilton who got her arm bitten off by a shark when she was a teenager and was back on a surfboard within 3 weeks.Nick Vujicic, 26, was born without arms or legs but he manages to swim, surf, play football, type, write and travel the world giving motivational and religious talks. Born in Melbourne Australia there was no medical reason for his disability - an occurrence known as Phocomelia. He has a small foot which he calls his 'chicken drumstick' that acts as a propellor in the water and enables him to swim very efficiently. He uses an electric wheelchair and has a team of carers to help him travel. He has visited over 24 countries and has plans for further travel to South America and the Middle East. Fame Pictures, Inc - Santa Monica, CA, USA - +1 (310) 395-0500
Nick Vujicic surfando
hawking
Stephen Hawking
Helen_Keller
Helen Keller

Pessoas com limitações severas, tetraplégicas, sem pernas e braços, já praticamente nascem nessa situação e várias acabam se destacando com feitos surpreendentes, exemplos para quem não tem essas limitações, autores de livros motivacionais para pessoas “normais”, como Helen Keller (surdacega estadunidense no início do século passado que conseguiu superar as limitações e se formar na universidade para se tornar uma escritora famosa), Nick Vujicic (nasceu sem braços e pernas, tentou se matar na banheira com oito anos, e hoje escreve livros inspiracionais e até anda de skate e surfa), o próprio Stephen Hawking, cuja vida foi mostrada recentemente pelo cinema, e muitos outros.

Sem a conexão espiritual e amor próprio que sinto, hoje eu talvez já não estivesse mais nessa encarnação, tendo optado por um suicídio consciente ou inconsciente. Mas também, se não tivessem sido crises tão fortes, talvez eu vivesse hoje uma vida sem propósito e sentido, o que agora considero seria tão sofrido quanto forjar a própria morte, algo como uma morte em vida, um estado que se assemelha ao estado de um moribundo com todas faculdades “plenas”.

Mas então, como se faz para se encontrar a causa de nossa vida?

Provavelmente, uma causa já habitou seu coração – que nunca tenha habitado, duvido! Pode não ter percebido. Lembra de alguns momentos de criança feliz e de coração pulsante? Está por aí, por ali…

Há vários motivos para esmorecer e ver o sentido da sua vida escorrer por entre os dedos, muitas vezes sem perceber, e quando vê, já é quase tarde demais. Mas ao mesmo tempo, existem infinitos motivos para despertar a causa do seu coração e com isso, o sentido da sua estada na Terra! Pode ser salvar as baleias. Pode ser ajudar as pessoas perdidas na cidade a encontrarem seu destino. Pode ser oferecer um dedo de prosa a alguém que está cabisbaixo. Seu coração é elástico e todo o mundo cabe nele! Experimente vestir o mundo com seu coração e descubra (novamente) toda a intensidade e felicidade de viver dentro de você!