Causa CauleEstilo de Vida EcológicoSem categoria

Natal consciente, ecologia global e tolerância

Então é Natal – meu trigésimo sétimo! Apesar de eco-querida, adoro as luzes piscantes de Natal (ainda bem que agora temos os LEDs que gastam menos energia), mesmo que todas continuam sendo fabricadas na China, até onde sei, ou você sabe de alguma empresa brasileira que faça luzinhas de Natal?

O balanço local e global esse natal está preocupante…

Natal e festas de fim de ano inevitavelmente convidam a fazer um balanço. Então, esse ano está sendo marcado por muitos episódios tristes. São muitos países em guerra, pessoas encurraladas querendo fugir, países negando receber os refugiados. São vídeos com pedidos de ajuda desesperados. Faz alguns dias, um homem raptou um caminhão, matou o motorista e invadiu uma feira de Natal em Berlim. Matou 12 pessoas e feriu 50, muitos gravemente. Todos os dias, no mundo inteiro, muitos morrem como consequência da intolerância cultural/religiosa e pela disputa de terras. Sem falar do candidato que venceu as eleições nos Estados Unidos, um ícone da intolerância no comando do País dos Livres! Um presidente que nega a existência do aquecimento global e quer boicotar todos os avanços (mesmo que lentos e insuficientes) para avançarmos na direção de encerrar a desastrosa era do carbono. Aqui no Brasil, o quadro político ultrapassou recordes de escândalos de corrupção em todos os níveis. Depois de um governo decididamente antiecológico, entrou uma aliança devastadora, disposta a liquidar o ambiente por qualquer lucro a curto prazo. Na cidade em que moro, os candidatos que ficaram em segundo turno se denunciavam mutuamente como corruptos com bons argumentos. Como eu tenho motivos para acreditar em ambos, nenhum dos dois serve para a nobre missão! Do panorama mais amplo e global ao mais local a situação está feia.

Não adianta reclamar, precisa agir!

Eu, desde que me lembro, fico sempre buscando soluções para o que acho que não tá bom. Quando eu era criança queria tanto uma varinha mágica para melhorar o mundo, mas como elas não existem, fico com a caneta de condão. Escrevo sobre o que vejo e como acho que podemos fazer melhor para talvez, quem sabe, nos multiplicarmos e sermos a transformação que queremos ver no mundo, parafraseando Gandhi.

Não costumo me manifestar em datas religiosas, para não tomar partido religioso. Para mim, todas religiões tem o seu lado belo e triste. No fundo, todas são uma só ou são uma contradição em si. Mas dessa vez deu vontade de abordar essa questão porque pensei muito sobre o assunto e tenho alguns vislumbres que podem ser de alguma utilidade para alguém.

Educação cristã

Eu fui batizada, fiz a primeira comunhão e frequentei escolas católicas praticamente todo período escolar. Depois estudei numa faculdade católica. Definitivamente não sou católica. Todo o tempo que passei nessas instituições, me fizeram ver a incoerência e perceber tudo com o que eu não me identificava. Mas aprendi muito sobre a Bíblia e sobre a religião católica, inclusive as inconsistências me ensinaram. Todos os dias pela manhã, tinha a reflexão da agenda. Juntos líamos uma reflexão edificante e precisávamos comentar na turma. Essa parte é excelente para aplicarmos a filosofia na nossa vida e para desenvolvermos o senso crítico.

Outra questão que considero importante para mim na escola foi as irmãs falarem que deveríamos cuidar bem do que tínhamos porque havia crianças que não tinham as mesmas condições e sofriam por isso. Ensinaram que existem outras realidades diferentes da nossa e como devemos cuidar mais do que temos. É um aprendizado que eu trago forte até hoje e agradeço por esse ensinamento.  Percebo que em escolas particulares não tem nenhuma orientação religiosa/espiritual. Existe o risco de a educação ficar muito restrita à preparação para a competição do mercado de trabalho.

Krishnamurti
Krishnamurti

Sobre eu não ser católica é mais ou menos como li nas redes sociais esses dias: Buda, Jesus e Maomé são ótimos, mas o problema são os respectivos fã-clubes. A brincadeira pode se estender a muitos outros mestres. Quem já estudou um pouquinho do budismo sabe que Buda é um título. O nome do primeiro Buda é Sidarta Gautama. Ele estava mais interessado em incentivar outras pessoas a seguirem o mesmo caminho para alcançarem esse estado de iluminação do que ter seguidores para si. Mas nem todos entenderam ou entendem isso. Não por acaso que Krishnamurti se negou a preencher o papel de Guru e alertou que era melhor fugir de todos que se chamam ou te chamam de mestre! Ou seja, a responsabilidade de evoluir, se transformar e transformar esse mundo é de cada um.

Sou ecumênica ortodoxa

Religiões do mundo

Brinco que sou ecumênica ortodoxa. Estive pensando que essa postura pode nos ajudar a transcender essa visão estreita de que estamos em lados diferentes. Estamos em um planeta redondo então se vamos sempre na mesma direção chegaremos ao lado oposto até voltarmos ao ponto de partida. Deus ou a sabedoria que criou o universo, acredito, nos rodeou com respostas explícitas. Às vezes não sabemos interpretar, mas estão aí. A redondeza do mundo é uma delas. Um exemplo é que lados opostos na política, por caminhos opostos chegaram e chegam ao totalitarismo.  Religiões que buscam a Deus por caminhos opostos chegam ao dogmatismo, pelo dogmatismo esquecendo do amor.

No instante em que a religião nos afasta dos outros seres humanos, nos afasta do amor e de nós mesmos. Ela deixou de cumprir o seu papel de nos conectar com nosso espírito, com a porção divina que há dentro de nós e pode inclusive estar nos afastando disso. Então, independente da filosofia ou da religião que pratique ou siga, fique muito atento e atenta a esse desvio. Ele pode acontecer com qualquer um de nós, a qualquer momento. A presença e a auto-observação são instrumentos espirituais imprescindíveis. Não importa a doutrina com a qual se identifique.

Coloque  tolerência religiosa em prática nesse Natal!

Nós que já somos grandinhos às vezes temos mais desafios em manter essa prática espiritual. Porém, podemos começar visitando templos diferentes, mesmo que você seja ateu, participando de rituais diversos. Acredito que será mais engrandecedor e interessante que jantar pela décima vez naquele restaurante ótimo. Peça a um amigo de uma crença diferente que o leve para o seu próximo culto, missa, ritual… Ele ficará muito feliz pela companhia e você além da companhia – pelo aprendizado. Apenas observe com os olhos com os quais você nasceu, olhos de criança que captam tudo com interesse genuíno e admiração. Será como uma viagem à outra cultura com quase nada de investimento de tempo e dinheiro. No mínimo ficará mais culto, educado e compreensivo, características que enriquecem qualquer personalidade. Conhecer as escrituras sagradas de todas as religiões aumentará o respeito pelos povos que almejaram há tempos a elevação e evolução da humanidade.

abookofthepeople hebrew hindu_anno2_7 quranarabicpage qumran_roll scriptures-guru-granth-sahib-sikh sanskrit_manuscript_wellcome_l0070805sikhbc3adblia-sagrada-aa

E será lindo e muito útil para fazermos o futuro ainda mais amoroso e pacífico se levarmos nossas crianças, sejam filhos, sobrinhos, netos ou amiguinhos para conhecerem templos de todas as crenças. Esse é um exercício de tolerância cultural e de respeito inter-racial e inter-religioso.  É importante que as crianças saibam que existem várias religiões e que cada uma tem sua luz. Todas satisfazem as mesmas necessidades dos seus seguidores. Quero que as crianças admirem e respeitem a sua e outras culturas. Precisam ter liberdade e apoio para seguirem aquela com a qual o seu coração ressoa. Ou que sejam ateus convictos se assim desejarem. Aliás, o ateísmo é uma religião cujos adeptos em geral tem uma fé ainda mais inabalável do que a média dos religiosos de todas as crenças.

Jesus não era um loiro de olhos azuis

Jesus histórico
Jesus histórico

O nascimento de Jesus supostamente marcou o início do calendário que seguimos. Embora eu achar difícil que Jesus tenha nascido no signo de Capricórnio. A data de início de março – pisciano, me parece bem mais plausível. Assim, estamos no ano 2016 do nascimento de Jesus que se estivesse vivo teria 2016 anos, daí me pergunto: porque o Natal não é então no dia 1 de janeiro, ou mesmo em março?

O natal cristão já é um sincretismo

Porque o calendário cristão se baseia nas comemorações que já existiam anteriormente, como o solstício de verão (sul) ou inverno (norte) para o Natal e assim por diante. A páscoa era a festa celta da fertilidade na primavera no hemisfério norte, por isso que tem ovo e coelho (símbolos da reprodução) na páscoa! Estamos todos juntos misturados, o próprio catolicismo “puro” em si já é um sincretismo, isso é fato. Quanto mais purista uma pessoa ou um movimento se coloque, mais explicita a sua ingenuidade e/ou sua decrepitude. Assista a um totalitarista ou um dogmático falar, a pessoa pode ser carismática e o discurso pode ser acalorado, mas é frágil e baseado na insegurança e no medo. É fácil de se perceber se tivermos o mínimo de discernimento.

Então, para quê o Natal, afinal?

Por isso, nesse Natal invistamos a luz divina que tem dentro de nós em amor, compaixão, tolerância, humildade e discernimento, para nós e para todos ao nosso redor. Investir bem o que recebemos de Deus e/ou da vida é o melhor presente que podemos dar para quem nos criou e nos sustenta! Não é uma opção válida transforma a nossa zona de conforto (nem tão confortável para a maioria) numa fortaleza e se preparar para o combate!

Shalom! Allahu Akbar! Hare Krishna! Namastê! Om Namah Shivaya! Amém! E que a evolução individual e coletiva sejam o nosso futuro! Uhuu!

the_victory_of_buddha