Economia circular
Economia circular – eliminando o conceito de lixo
A Economia Circular é sistêmica e promove a transformação ambientalmente responsável de toda a cadeia de produção e consumo. As mudanças ocorrem desde o design do produto, dos meios produtivos, distribuição, uso de materiais recicláveis, consumo e descarte consciente. Os resíduos não elimináveis nos processos produtivos servirão como insumos para novos produtos, do mesmo ou de outro ciclo econômico-produtivo. A consolidação desta metodologia vem eliminando o conceito de lixo vigente.
No último post contei pra vocês um pouco sobre a quantidade de lixo que geramos e como o Movimento Lixo Zero está rebatendo essa tendência. Hoje, quero dividir o que aprendi sobre circularidade e seu objetivo de eliminar o lixo na fonte.
“Eliminar o lixo na fonte, como assim?”, você deve estar se perguntando. É uma pergunta muito pertinente. E a resposta, por sua vez, é surpreendente: desenvolvendo produtos que nunca virem lixo, mas sim que sejam reaproveitados ao máximo para gerarem novos produtos. “Ah, então é como reciclagem!”, você deve estar pensando agora, hehe. Mas, na verdade, circularidade é bastante diferente de reciclagem.
Circularidade versus reciclagem
Léa Gejer, uma das líderes da difusão da circularidade no Brasil, explica que a reciclagem tende a gerar um “downcycling” de materiais. A circularidade, em contrapartida, promove o “upcycling”. Isso significa que materiais que chegam ao fim da vida útil retornam ao seu ciclo inicial, seja ele o ciclo técnico (caso de um produto industrializado) ou biológico (produto natural).
No exemplo dado por Léa, uma garrafa plástica é um produto do ciclo técnico (indústria). Se ela for reciclada, ela pode ser misturada ao algodão, que é um produto do ciclo biológico, dando origem a um produto híbrido composto de um material orgânico e um industrializado. Mas para que tal produto híbrido seja criado, ambos os materiais devem ter sua qualidade reduzida.
Num cenário circular, a garrafa teria sido desenvolvida para retornar ao seu ciclo técnico com o máximo possível de sua qualidade original. Assim, toda a energia usada para produzi-la seria reintegrada ao ciclo para gerar novos produtos.
A circularidade se baseia no ciclo da natureza, onde nada se perde, tudo se transforma. O conceito exige que o design de produtos considere, de antemão, ambos os ciclos (orgânico e técnico).
Assim, cada produto desenvolvido com base nos princípios “de berço a berço” (do autor William McDonough) vai retornar ao seu próprio ciclo com a mesma qualidade. A circularidade é, portanto, mais avançada que a reciclagem. E isso é uma excelente notícia, já que a reciclagem que conhecemos hoje tem suas limitações. Principalmente a de plástico…
Por que reciclar não é suficiente para diminuir nossa pegada ecológica
De acordo com dados das Nações Unidas, apenas quatro por cento do lixo em geral é reciclado no Brasil. Essa é a média nacional, mas os números variam bastante de lugar para lugar. Afinal, O Brasil é um país enorme e de grande diversidade cultural e econômica, o que afeta a produção e a destinação do lixo.
Em geral, regiões mais ricas tendem a produzir mais lixo porque consomem mais. Em regiões mais ricas também há maior tendência de separação do lixo por parte da população, devido a maiores níveis de educação. Em contrapartida, pessoas de baixa (ou baixíssima) renda que habitam as grandes cidades ricas, separam e coletam o lixo como fonte de renda. Essa é a razão por trás da taxa de 98 por cento (uhu!) de metal reciclado no Brasil.
Mas fica evidente o quanto a reciclagem deixa a desejar quando olhamos para as taxas de reciclagem de países ricos, como a Holanda e os Estados Unidos. Aqui, 40 por cento dos resíduos são reciclados pelo governo. Nos Estados Unidos, a média é de 57 por cento.
Eu, particularmente, me surpreendi de forma negativa. Esperava que um país com tanto desenvolvimento tecnológico, com uma economia tão estável, e população com altos níveis de educação, essa taxa seria mais alta. Na minha inocência, eu imaginava 80 por cento.
O problema da atual economia linear
Depois de muita pesquisa, entendi que grande parte do lixo plástico da Holanda, que é separado pela população, acaba exportado para ser incinerado em outros países. Isso se deve, em grande parte, à natureza do próprio lixo.
Alguns tipos de plástico como os saquinhos finos que embalam salada pronta, não são reciclados. Isso se deve ao fato de que a qualidade desses plásticos é muito baixa. Se eles entrarem no processo de reciclagem, o que sobra no final é tão pouco que não justifica os recursos humanos, tecnológicos e naturais empregados em sua reciclagem.
Ou seja, na economia linear em que vivemos, criamos produtos que viram lixo e não desaparecem da face da Terra sem deixar uma grande pegada. Usamos recursos fósseis para criar o plástico, o que tem uma pegada ecológica imensa, e depois geramos muito CO2 de novo para nos livrar dele. Isso quando o plástico não acaba nos oceanos como já vimos.
Considerando tudo o que já sabemos sobre a ligação direta entre geração de CO2 por ações humanas e mudanças climáticas, tudo isso descrito acima não faz sentido. Por outro lado, essa descrição é útil em ilustrar o quanto precisamos mudar nossos hábitos de consumo e de produção.
A economia circular como resposta
Segundo a organização não-governamental Circulate News, a transição de uma economia baseada em extração e consumo para uma economia baseada em restauração e regeneração tem sido a prioridade de muitos países. A União Europeia saiu na frente com países como Alemanha, Finlândia, Holanda e França liderando o movimento. Cada país aborda a transição de acordo com suas próprias necessidades e (im) possibilidades. Mas, em comum, todos têm o objetivo de conciliar crescimento econômico e benefícios ambientais.
Desde junho de 2014, quando a União Europeia lançou o pacote de economia circular, o desafio tem sido evoluir da administração de resíduos (que é o fim do ciclo) para uma abordagem upstream. Por isso, o foco de muitos países hoje é o desenvolvimento de produtos limpos, não contaminados por tóxicos, e que retornem ao seu ciclo original no fim da vida para alimentar esse sistema.
A economia circular é um tópico super abrangente. Eu poderia escrever vários posts sobre ela, rsrsrs. Então hoje vou parar por aqui com a promessa de voltar para falar como esse sistema já está mudando modelos de negócios e hábitos de consumo. No próximo post, também vou falar sobre economia circular no Brasil. Até lá!
Por Marina Scatolin
Ilustração de capa: Lis Vasconcellos